09 maio 2006

A point of view

Atendendo a pedidos da massa dos meus quatro leitores, estou postando agora meu último exercício da Oficina, dividido em três partes.
A idéia é de praticar diferentes tipos de narrativa e eu decidi contar o mesmo fato, sob três diferentes pontos de vista, utilizando no I um narrador em primeira pessoa (através do protagonista), depois no II o modo dramático (somente com diálogos) e por fim no III a onisciência seletiva (ponto de vista de um personagem, narrado em terceira pessoa).
Deveras erudito, pois não? Seu Moschetta nem pode reclamar do investimento nesse curso, que pelo menos me faz parecer entendida em alguma coisa!!!

xxx


"O tempo... horas de horror e tédio na memória..." Manuel Bandeira

I


O tempo assumiu uma nova dimensão. Agora lembro a todo o instante desses momentos bobos, que quando aconteceram não tiveram maior importância ou significado, mas estão como que gravados em película, repetindo sempre e sempre feito um filminho travado em minha mente...
Como o abraço que ganhei de um amigo que foi me visitar no café num dia de verão. Uma tarde de sol brilhando que me encontrou faceira de poder vestir saia e blusa sem mangas, mãos no bolso do avental, observando as mesas de fora da cafeteria com mais atenção, querendo aproveitar todo o possível a raridade que é a luz do dia naquela cidade bege. Sim, porque ao contrário do que se diz, metrópoles desprovidas de incidência solar freqüente não são acinzentadas. Na verdade elas adquirem tons de um amarelado esquálido, uma coloração como que de dunas de areia, os dias amanhecendo e entardecendo sempre num tom frustrante e estéril.
Mas naquela quarta-feira o astro rei dava o ar de sua graça e ele atravessou a rua sorrindo para mim. A distância que estava quando eu o vi se aproximando permitiu que eu tomasse impulso para arriscar um salto curto e então ser amparada nos seus braços abertos e seguir girando uma meia volta leve e perfeita, como um passo de dança em câmera lenta. Na verdade, acho que foi mesmo como essas cenas que a gente assiste no cinema e pensa “assim é como deveria ser a vida”...
Aconteceu há mais de meio ano em outro país, outra realidade - mas poderia ter sido ontem. Hoje, as cobertas me capturaram novamente e sussurros ardilosos do lençol argumentam que não há motivos para deixar a cama. A sucessão dos anos, dias e horas perderam um pouco do sentido e é engraçado como o tempo pode passar tão rápido quando nada acontece.
Esse ronco no meu estômago deve significar que perdi o almoço, e por isso vou ficar na cama até a hora de ir para ginástica. No caminho para a rua desviarei os olhos do porteiro para evitar julgamentos que eu mesma faria se estivesse no lugar dele, já que a ociosidade está estampada em meu rosto.
A página 1364 da minha edição capa dura do Aurélio me diz que “O tempo é um meio contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis”. O sol brilhou lá fora todos os dias deste Outono mas acontecimentos não se sucederam e eu estou irreversivelmente presa nestas linhas
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7 comentários:

Anônimo disse...

Eeeeeeeeeee!!! Queremos mais! Queremos mais! Queremos mais!

Como faço parte da massa de 4 leitores posso EXIGIR mais!!!

Anônimo disse...

Cara, muito bom mesmo,e concordo com a tua irmã, queremos mais.
Super bjo, te cuida.

Anônimo disse...

Oh VeVe, eu tambem faco parte dessa massa de leitores!!! Aumenta o numero para 5, viu?!?!
A galera pede mais, entao desenferruja esses dedos magicos e escreve mais para nos, menina!!
Queremos mais!!!

Beijos,
LeLe

Anônimo disse...

queria descobrir o que é o tempo, perguntei aqui e ali e todos sempre me diziam que o tempo estava bom, ou que o tempo era dinheiro...

foi quando parei, sentado ao sol de inverno, que percebi que o tempo nos envolve e conosco faz o seu ritmo!

bjumala!

Anônimo disse...

lembra da earthdance???

akele dia descobri o que era o tempo, e o que dava pra fazer com ele...

Anônimo disse...

Acho que eu não posso ser contada no grupo,porque mãe nunca conta, mas eu sou, certamente, a tua mais antiga leitora. Prá provar, tenho guardados os "beletes" que "o carteiro" Marina entregava.
Eu também quero mais!

Anônimo disse...

Que cabeça a minha, eu tava lendo e pensando.. "Eu ja li isso em algum lugar.." ahahah
Tu ja tinha me mostrado
beijos

Eu já vi tanta coisa e ainda resta tudo pra ser visto. Queria te falar e falo, mas acho que é mais fácil de ser compreendida escrevendo. O tempo passa mais devagar que a velocidade do meu pensamento. Eu parei, mas a minha busca continua indo. Só ainda não sei onde....