14 maio 2006

...e enfim

III

Da janela da sala ele podia ver o quarto da moça solteira no condomínio vizinho. Era filha do homem grande que nunca estava em casa e também estava acordada desde cedo, mas não havia deixado a cama. No meio da manhã já haviam se acumulado pilhas e pilhas de folhas de papel escritas sobre as cobertas em desalinho dela. Agora a tarde já ia pelo meio, e apesar de estar de folga ele não havia saído para aproveitar o dia luminoso, recusando o convite da noiva num telefonema curto e monossilábico, os olhos fixos na casa vizinha.
Não se conheciam apesar de freqüentarem a mesma academia. Nunca tinham se falado, mas ele havia ouvido a conversa dela por sobre os halteres, contando de outros lugares e viagens internacionais. A moça andava de óculos quando estava em casa e devia ser jornalista ou escritora, sempre cercada de livros grossos e escrevendo em cadernos ou no computador portátil.
Ele, todo mundo sabia quem era, é claro. Ainda assim não era de papo. Mesmo nos jogos, embora estivesse se destacando cada vez mais no time, não era nunca abordado pelos repórteres esportivos, que já conheciam sua fama de recluso e acabrunhado. Não se importava mesmo com isso, desde que tivesse agradando o Professor e a torcida. No fim, quem contava eram eles. Para eles tinha conquistado todos os campeonatos até aqui e assim também havia garantido os contratos de publicidade que tinham lhe valido a casa confortável e a vida folgada.
Mas alimentava uma inveja secreta e doída da moça que escrevia. Não dessas viagens que havia de ter feito pra outros países e contado nos livros, jornais e revistas. Sabia que poderia viajar um dia também, pois já se falava de um time árabe sondando sua posição lá no clube. Contudo tinha certeza de que nunca poderia escrever ou nem mesmo falar sobre isso.
Letras formando palavras e depois frases inteiras, saindo de sua boca ou perfiladas em linhas impressas. Isso era assustador e ele não poderia enfrentar. Ele que tinha sido eleito o zagueiro do ano e que desde criança no colégio não perdia uma dividida. Tinha medo da moça, das palavras e agora estava preso em uma janela.
Porque a vida tinha que ser assim?

4 comentários:

Anônimo disse...

Quem é esse vizinho jogador de futebol??? Pena que ele já tem noiva, né... se não até q tu podia, no próximo encontro na academia, tentar uma aproximação. Vai que ele vai pra Arábia e te leva junto!!! Que emoção...

Muito bom os textinhos, irmã! Só não concordei muito com o segundo... nenhum porteiro fala daquele jeito... isso só prova que realmente tu é uma antipática, e nem quer saber o q eles estão falando!

Anônimo disse...

eeeeee! agora tu tem um link pro meu blog!!! Talvez eu possa compartilhar contigo a tua massa de 4 leitores!!! eba!

Anônimo disse...

lerei o blog da irma tb!


e otra... o jogador de futebol eh analfabeto???

Anônimo disse...

uhu!!! agora o Gab, também faz parte da minha massa de leitores!!

valeu!!!

Eu já vi tanta coisa e ainda resta tudo pra ser visto. Queria te falar e falo, mas acho que é mais fácil de ser compreendida escrevendo. O tempo passa mais devagar que a velocidade do meu pensamento. Eu parei, mas a minha busca continua indo. Só ainda não sei onde....