20 dezembro 2006

Caixa de sapato

Houve uma época em que eu realmente sentia o espírito...
Claro, durante toda infância era praticamente um frenesi, onde eu acompanhava desde fins de Novembro a tosquíssima contagem dos intervalos do SBT. (Lembra? Faltam XX dias para o Natal!!!)
Montava árvore e presépio. Ensaiava canções natalinas no colégio. Fazia lista de pedidos. Desenhava cartões.

Depois - quando eu já sabia bem que o Papai Noel era sim gordo e de barba branca, mas tinha o mesmo sobrenome que o meu - ainda curtia a coisa toda e me empenhava fazendo biscoitos, embrulhando pacotes e riscando intermináveis listas de outras atividades festivas.
Organizar amigo-secreto. Comprar roupa branca e lingerie nova. Enviar mensagens. Definir objetivos para o próximo ano.

E então, nada...
Irritação com shoppings lotados e compras desenfreadas. Fundos reduzidos. Cansaço. Muito cansaço.
Eis que não queria festa nem presente, nem felicitações nem resoluções. Só uma caixa de sapato pra entrar e me esconder até essa loucura toda de Boas Festas passar.

Mas de 1955 me disseram*:

"É preciso — é mais do que preciso, é forçoso — dar boas festas, trocar embrulhinhos, querer mais intensamente, oferecer com mais prodigalidade, manter o sorriso e, acima de tudo, esquecer tristezas e saudades. (...)
Dos planos de cada um, pouquíssimos serão transformados em realidade. (...) O melhor, portanto, é não fazer planos. Desejar somente, posto que isso sim, é humano e acalentador.
De minha parte estou disposto a esquecer todas as passadas amarguras, tudo que o destino me arranjou de ruim neste ano que finda. Ficarei somente com as lembranças do que me foi grato e me foi bom.
No mais, desejarei ficar como estou porque, se não é o que há de melhor, também não é tão ruim assim e, tudo somado, ficaram gratas alegrias. Que Deus me proporcione as coisas que sempre me foram gratas e que — Ele sabe — não chegam a fazer de mim um ambicioso.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro."

E eu abri a caixa.

Ho, ho, ho, e tudo o mais...

* Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, em crônica publicada na revista "Manchete" nº. 193, de 31/12/55.
Eu já vi tanta coisa e ainda resta tudo pra ser visto. Queria te falar e falo, mas acho que é mais fácil de ser compreendida escrevendo. O tempo passa mais devagar que a velocidade do meu pensamento. Eu parei, mas a minha busca continua indo. Só ainda não sei onde....