09 março 2006

Quinta feira, 10 hs.

Começei a Oficina Literária do Charles Kiefer hoje.
Final do ano concorrerei ao Nobel de Literatura...
Por hora, tema-de-casa.
...

Olinto era meu avô.
Do alto dos meus dois anos de idade parecia um gigante.
Ele, todo pernas e braços que não se acabavam, enroscado junto ao fogão à lenha, chupando um mate. Eu, toda teimosia e manha, rainha pingo de gente, aproveitando-me da condescendência de minha avó.
"Quero colo!" reinava sempre na volta dos passeios, e sentava no chão desafiando a negativa. Como resposta duas mãos de ferro, uma num pé, outra num braço e a birrenta retornava arrastada para casa.
De poucas palavras, gastou algumas tentando me convencer a sair cedo da cama: "Se tu te levantar antes, pode dar uns mergulhos...", dizia com um ar misterioso.

E então, inventava a lenda de um mecanismo mágico que, fantasticamente, trabalhava para substituir a horta do fundo da casa por uma refrescante e límpida piscina. Mas somente para quem estava de pé já no começo das manhãs!

Pensando agora, acho que sempre foi um guri.
Me ensinou a andar de bicicleta sem rodinha, correndo atrás de mim na frente da casa. "Me segura, vô!!!!" e quando eu via ele já tinha soltado...
Soltava pipa para mim, porque eu nunca entendi como - guria de carpete.
Da porta da frente, eu cansava assistindo ele e o machado, produzindo lenha pro forno da D. Elocy em montanhas.
Comia açúcar cristal direto do açucareiro, de colherada, para "adoçar a boca".
Arranjou namorada trinta anos mais nova, pouco depois de enviuvar, e era o homem mais bonito no casamento do primo Lúcio, com as meias combinando com o lenço da lapela.

Quando ele foi eu estava na cidade a trabalho.
A notícia fazia sentido, mas eu demorei a acreditar.
De uma realidade paralela, acompanhei os preparativos para o enterro.
No caixão não tinha gigante nem guri.
Não chorei, mas me recusei ir ao cemitério.
Fiquei na casa, fui ao quintal e procurei a piscina...


Corrigido em 24/03
...

Putz, tomara que eu aprenda alguma coisa...

5 comentários:

Anônimo disse...

Bah! Bah!

Anônimo disse...

o charles kieffer ta fazendo uma oficina contigo?

Anônimo disse...

bah, tenho dois amigos que fizeram essa oficina. a sessão de autógrafos foi lá no opinião. um deles é o Dio Flanders, meu penúltimo post lá no lombada.
ah, teu texto é uma gracinha.

Anônimo disse...

O texto é uma gracinha mesmo, mas tu roubou minhas memórias!!! O vô ME ensinou a andar de bicicleta e a piscina sempre existiu, tu que nunca acordava cedo o suficiente para encontrar ela aberta... pena que eu também sempre fui muito dorminhoca...
ah, mas pelo menos ele me seguia do colégio, que era na esquina, até em casa se escodendo atrás dos postes, pra ver se eu ia direitinho pra casa, e eu nunca percebia.
E por um acaso alguma vez ele te contou que a família dele era dona de toda Tramndaí e Imbé???

Anônimo disse...

perdão se o comentáro estiver meio úmido mas não consegui ler até o final :uma aguinha teimosa insitia em molhar meu rosto. Acho que era água da piscina do seu Olinto...

Eu já vi tanta coisa e ainda resta tudo pra ser visto. Queria te falar e falo, mas acho que é mais fácil de ser compreendida escrevendo. O tempo passa mais devagar que a velocidade do meu pensamento. Eu parei, mas a minha busca continua indo. Só ainda não sei onde....